CONCURSO UNILAB

05/03/2018 11:32

A UNILAB (Ceará-Brasil) lançou hoje edital para concurso para provimento de vagas da carreira do magistério superior. O setor de estudo Antropologia da África está sendo considerado relevante para o fortalecimento dos nossos cursos de graduação e pós-graduação – em atendimento às diretrizes de uma universidade de internacionalização e interiorização. O mestrado do PPGA UFC-UNILAB já iniciou as suas atividades e espera que os novos profissionais venham a somar esforços para a valorização e desenvolvimento da pesquisa antropológica no Ceará, no Brasil e nos países parceiros (PALOPs).

Link para o edital:
http://www.unilab.edu.br/wp-content/uploads/2018/03/Edital-010.2018-IHL-CE-5-setores.pdf

Nota da S. B. Sociologia em Defesa da Autonomia Universitária

24/02/2018 17:20

A Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), a partir do recente episódio referente à oferta da disciplina sobre “O Golpe de 2016 e o Futuro da Democracia no Brasil“ pelo Professor Titular Luis Felipe Miguel, da Universidade de Brasília, vem se manifestar a favor da autonomia didático–científica das universidades públicas. Neste sentido, posiciona-se de forma contrária à nota emitida pelo Ministério da Educação na qual aponta a possibilidade de acionar a Advocacia Geral da União, Controladoria Geral da União, Tribunal de Contas da União e o Ministério Público para “apurar se há algum ato de improbidade administrativa ou prejuízo ao erário público”. Nunca é demais lembrar que a Constituição de 1988, no seu artigo 207, afirma que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao principio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. O posicionamento do MEC fere a autonomia universitária e a cultura acadêmica que foi duramente conquistada pela comunidade acadêmica no contexto do período de vigência do regime autoritário (1964-1985). Após uma árdua luta em prol da liberdade de pensamento – travada pela comunidade científica nacional, diante das restrições de pensamento existentes durante a ditadura militar – as universidades brasileiras reconquistaram sua autonomia intelectual que se encontra consagrada na Constituição Federal. Lamentavelmente, a comunidade acadêmica nacional presencia com profunda preocupação, a manifestações provenientes de diversos segmentos da sociedade brasileira, visando constranger a livre circulação de diversas formas de pensamento no espaço público. A SBS destaca, a partir desta Nota, a sua tradição histórica em defender a autonomia acadêmica e a liberdade de pesquisa científica e de expressão em outras áreas do conhecimento e da cultura no país, como um requisito básico de uma sociedade democrática.

Carta ao Governador do Estado de Santa Catarina

13/01/2018 17:29

Florianópolis, 08 de janeiro de 2018.

Ao Excelentíssimo Governador do Estado de Santa Catarina
Senhor João Raimundo Colombo
Centro Administrativo do Governo
Rod. SC 401- KM. 5, n. 4.600
Florianópolis, SC

Excelentíssimo Senhor Governador,

As equipes de pesquisa e órgãos acadêmicos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vêm expressar o profundo pesar e a extrema necessidade de justiça frente ao assassinato cruel sofrido pelo professor indígena Marcondes Namblá, do povo indígena Laklãnõ-Xokleng da Terra Indígena Laklãnõ, Alto Vale do Itajaí. Marcondes fazia trabalho temporário em Penha-SC, vendendo picolés neste período de férias turísticas no litoral do estado, quando, no dia 1º de janeiro de 2018, foi espancado na cabeça até cair desacordado. Resgatado pelos bombeiros, foi levado ao Hospital Marieta Konder Bornhausen em Itajaí, onde foi submetido a três cirurgias, porém não resistiu. No momento o suspeito de assassinato encontra-se foragido e a polícia qualificou o crime como “homicídio por motivo fútil”.
Marcondes era egresso da UFSC, formado em 2015 pelo Curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, fazia parte de uma geração que vislumbrou na universidade um lugar para compreender melhor as dinâmicas políticas, econômicas e sociais que ao longo da história atingiram seu povo de forma injusta e sangrenta. Em seu Trabalho de Conclusão de Curso pesquisou e trabalhou o tema Infância Laklãnõ e a prática dos banhos nos rios, coibidos pela construção da Barragem Norte. Liderança expressiva, exercia o cargo de juiz na Terra Indígena Laklãnõ. Como liderança e professor recém-aprovado no Concurso Público de Ingresso no Magistério Público Estadual 2017, primeiro concurso de professores indígenas do estado, preocupava-se com o fortalecimento da língua materna, com processos de circulação de saberes e com as dimensões identitárias e territoriais. Tinha planos de prosseguir os estudos cursando o Mestrado em Antropologia na Universidade Federal de Santa Catarina e apresentava posicionamentos claros quanto à importância da escola na formação das crianças e jovens de sua Terra Indígena.

A nós restou a revolta por constatar que vidas indígenas são interrompidas em qualquer esquina, como se algum outro ser humano tivesse esse direito. Acreditamos que este acontecimento não consiste em um fato isolado, mas se soma a outros casos de violência étnica, preconceito, intolerância e xenofobia em relação aos povos indígenas no estado de Santa Catarina. Basta lembrar que em 30 de dezembro de 2015, o menino Vitor, da etnia Kaingang, foi assassinado na rodoviária de Imbituba, litoral catarinense, no colo de sua mãe, que se deslocava para vender artesanato durante a temporada de verão. Há muitos anos, os indígenas Mbyá-Guarani da Terra Indígena Morro dos Cavalos vêm sofrendo ataques consecutivos, como o recente episódio de uma mulher, mãe de uma liderança, que teve sua mão decepada. Os casos acima evidenciados não podem ser tratados como casos isolados ou simplesmente qualificados como crimes “por motivo fútil” como a polícia os têm tratado. A violência contra os povos indígenas é estrutural ao processo histórico ao qual foram submetidos e é sistemática, diária, individual e coletiva, deixando profundas marcas físicas e psicológicas.
Registramos aqui nossa tristeza, nossa indignação, nossa perda, mas, sobretudo, queremos, neste momento de dor, solicitar ao Excelentíssimo Governador do Estado a tomada de posição e a efetivação de políticas públicas em relação às seguintes demandas:
1. Combate efetivo, através de instrumentos legais, de quaisquer ações criminosas de violência física, racismo e xenofobia, efetuadas contra os povos indígenas em Santa Catarina, seja no nível individual como coletivo, fazendo valer o estabelecido no capítulo Dos Índios na Constituição Federal (1988), no artigo 192 da Constituição Estadual (1989), na Convenção 169 da OIT (ratificada pelo Brasil em 2004) e na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2007);
2. Investimento em ações positivas voltadas para a conscientização sobre a diversidade étnica no Estado de Santa Catarina e para o respeito ao modo de vida dos povos indígenas, por meio de campanhas culturais e educacionais, incentivando, por exemplo, a efetivação da Lei 11.645/2008 nas escolas catarinenses;
3. Garantia da participação dos povos indígenas na formulação, execução e monitoramento das políticas governamentais conforme legislação acima mencionada;
3. Criação, junto aos governos municipais, de condições para que indígenas possam gozar do direito cidadão de circular com tranquilidade e segurança pelas cidades catarinenses, especialmente durante a temporada do verão, quando se deslocam em maior número de suas aldeias para exercer atividades voltadas para obtenção de renda extra, como o comércio de artesanato.
Finalmente gostaríamos de requerer uma audiência com o Excelentíssimo Governador para que estas demandas sejam devidamente apresentadas e esclarecidas.

Atenciosamente, subscrevem os abaixo signatários:

Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica (LII)
Núcleo de Estudos de Populações Indígenas (NEPI)
Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades (SAAD)
Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH)
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS)
Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin)
Departamento de Antropologia
Museu de Arqueologia e Etnologia (MArquE)
Ação Saberes Indígenas na Escola – Núcleo Santa Catarina
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Brasil Plural (INCT/IBP)
Instituto de Estudos de Gênero (IEG)
Núcleo de Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e no Caribe (MUSA)
Núcleo de Dinâmicas Urbanas e Patrimônio Cultural (NAUI)
Núcleo de Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem (NAVI)
Núcleo de Antropologia do Contemporâneo (TRANSES)
Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS)
Núcleo de Estudos de Saberes e Saúde Indígena (NESSI)
Núcleo de Estudos sobre Identidade e Relações Interétnicas (NUER)
Núcleo de Pesquisa em Fundamentos da Antropologia (A-funda)
Laboratório de Estudos das Violências (LEVIS)
Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica (ECOHE/CCB)
Grupo de Pesquisa em Políticas Linguísticas Críticas/CCE
Grupo de Estudos em Oralidade e Performance (GESTO)
Comissão Organizadora do 18º IUAES World Congress

Nota de repúdio da ABA contra o ataque à liberdade de divulgação do conhecimento científico sobre os impactos da mineradora Belo Sun na Volta Grande do Rio Xingu

04/12/2017 10:57

A Associação Brasileira de Antropologia (ABA) vem a público repudiar a ação violenta ocorrida contra a antropóloga Prof.ª Dr.ª Rosa Elizabeth Acevedo Marin e os participantes do Seminário “As Veias Abertas da Volta Grande do Xingu – Uma Análise dos Impactos da Mineradora Belo Sun Sobre a Região Afetada por Belo Monte”, realizado no auditório do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), no dia 29 de novembro de 2017.
Os atos de violência nesse evento foram praticados por um grupo liderado pelo prefeito de Senador José Porfírio/PA, Dirceu Biancardi (PSDB), e pelo Deputado Estadual Fernando Coimbra (PSD), que vieram ao campus da UFPA, em Belém, com o objetivo de cercear e impedir a manifestação e a publicização de estudos e análises sobre impactos socioambientais associados à exploração mineral pretendida pela mineradora canadense Belo Sun. Tais estratégias de inibição do debate acadêmico pelo uso da violência fere a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento e o saber”, que é garantida no Brasil pela Constituição Federal de 1988 (artigo 206), e tem como beneficiária a universidade e instituições acadêmicas versus o abuso de poder político e econômico que pretende impedir a veiculação do conhecimento socialmente relevante.

A ABA, como associação científica, repudia veementemente e considera inadmissível esse grave crime de assédio cometido contra a liberdade acadêmica e o fazer antropológico em contextos de políticas públicas, que produzem impactos socioambientais associados a projetos desenvolvimentistas impostos autoritariamente.

Brasília, D.F., 30 de novembro de 2017

Associação Brasileira de Antropologia
Gestão 2017-2018

Nota_Diretoria_ABA_repudio_caso_evento_belo_monte