Diásporas Africanas

A área de Diásporas Africanas congrega pesquisas que buscam correlacionar os legados africanos e os afro-brasileiros, suas práticas de resistência e afirmação identitária.

Sub-áreas:
-Artes e Tecnologias
-Políticas Linguísticas
-Movimentos e Organizações
-Filosofia e Ética

Projetos Atuais:

1- Pensamento Social sobre os Negros no Brasil: entrevistas e depoimentos
O projeto valoriza as experiências e memórias de pesquisadores brasileiros e estrangeiros que conviveram com pesquisadores pioneiros nos estudos sobre a população negra no Brasil, tais como Roger Bastide, Clovis Moura, Donald Pierson, Oracy Nogueira, Abdias do Nascimento e outros.

Orientadora: Ilka Boaventura Leite

2 – ORÍ EBÓ AXÉ quilombos, diásporas africanas, poéticas e políticas
O projeto está inspirado nos três conceitos do Yorubá-Bantu que têm orientado a nossa proposta de trabalho, projetando-se para os próximos que virão: Orí, que que dizer, cabeça, iluminação, memória, transcendência, caminho de conhecimento, consciência; Ebó, que significa alimento, oferenda, celebração, cura e superação, movimento, deslocamento, encruzilhada, destino; Axé, que representa energia, força, mobilização, marcos fixadores e revitalizadores das reivindicações e lutas por reconhecimento, identidade política. Estes três conceitos metafísicos, cosmológicos e espirituais integram as poéticas e políticas da contemporaneidade e revelam o quilombo como gênese identitária da África e das Diásporas.

Orientadora: Ilka Boaventura Leite

3 – História e cultura africana e afro-brasileira nos currículos universitários: entrecruzamentos educacionais Brasil – Angola. 2016-2020. Tese (Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina

Pretende problematizar o tema da “História e Cultura Africana e Afro Brasileira” nos contextos universitários, tendo como centralidade a experiência universitária em Angola e a experiência universitária no Brasil, objetiva-se pensar como as discussões sobre o lugar do conhecimento do continente africano vem se construindo, tanto na perspectiva angolana/africana como na perspectiva da brasileira. É entender especialmente o que se constrói academicamente sobre África/Angola nos currículos universitários brasileiros. A pesquisa está inserida numa rede institucional que tem o Kadila/NUER (BR) e o CE.DO (ANG) como agentes da cooperação acadêmica, sendo assim, as reflexões aqui feitas tem por trajetória os referências balizados por esses dois centros, por isso que as escolhas teóricas e metodológicas caminham numa perspectiva de descentralizar o olhar e desnaturalizar os entendimentos que são feitos sobre aquilo que é considerado como História e Cultura Africana e Afro-Brasileira. Na seara da geopolítica do conhecimento, essa tese se propõe a dialogar a partir da horizontalidade que o movimento reflexivo Sul – Sul faz, bem como da pós-colonialidade e os seus desdobramentos (decolonialidade). Esta tese não tem finalidades comparativas, mas sim de uma dialogo contrastivo sobre a experiência educacional, e com isso as negociações, trajetórias, escolhas e percursos que veem sendo adotadas nas universidades escolhidas como lócus de pesquisa (UAN (Universidade Agostinho Neto, Faculdade de Ciências Sociais), em Luanda/Angola e UFS (Universidade Federal de Sergipe), em São Cristóvão/Brasil). É problematizar assim, quais opções acadêmicas estão referenciadas em detrimento de outras, no caso desta pesquisa, é entender como se circunscreve o legado epistemológico africano e dos seus descendentes, é saber, pensando no Brasil, como os bancos universitários brasileiros incorporam/pensam/questionam esta temática em contraste com aquilo que vem sendo produzido em Angola/África.

Dissertação de Doutorado
Autora: Yérsia Souza de Assis
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

Projetos Concluídos:

1 – Territórios do Axé

O projeto é resultado de um Acordo de Cooperação Técnica entre o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN e a Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. O Plano aprovado visa obter um panorama das religiões de matriz africana da Grande Florianópolis, a partir dos seus próprios interlocutores, buscando perceber suas principais características sócio-históricas, linhas de ação e conformações territoriais. Este panorama será apresentado em forma de um mapeamento contendo informações quantitativas e qualitativas que possa fornecer um diagnóstico preliminar sobre a diversidade das religiões e municiar os praticantes e as instituições públicas em suas iniciativas de valorização, proteção e garantia de autonomia e liberdade de culto, segundo a Constituição Federal de 1988. A equipe contou com profissionais de diversas áreas e campos disciplinares tais como a história, a antropologia, a geografia, a sociologia e a linguística, buscando uma interlocução com os saberes constituídos nas casas de culto e através dos mestres e praticantes, buscando registrar a memória e a história, as diversidades de crenças e práticas, a construção do espaço social, do grupo, e das práticas comunitárias, as formas de transmissão de saberes entre gerações e os falares africanos trazidos pelos seus fundadores. O projeto não visa apreender e nem discutir os fundamentos religiosos das religiões africanas, mas, sim, busca valorizar a cultura religiosa aí consolidada, para compreender, respeitar, preservar e manter sua presença, riqueza e criatividade na sociedade catarinense.

Coordenação: Ilka Boaventura Leite (Profa.Antropologia)

Docentes da UFSC:
Nazareno José de Campos (Prof.Geografia)
Cristine Severo Gorski (Prof.Linguística)
Amurabi Pereira Oliveira (Prof. Sociologia e Ciência Política)
Henrique Espada (Prof.História)

Pesquisadores e apoio técnico:
Alexandra Elisa Vieira Alencar (Pesq. NUER Antropologia), Bruno M. Reinhardt (Pesq. NUER Antropologia), Danielle Souza (Mestranda IPHAN), Yasser Socarras (Pesq. NUER/ Cineasta), Marliese Vicenzi (Coord. Pesquisa-Cientista Social), José Felipe Silva (Desenvolvedor WEB), Daniele Climaco (Téc. Admin. Fapeu), Ramiro Valdez (bolsista grad.antropologia), Julia Bercovich (bolsista grad.antropologia), Luiz Fernando Mendes Almeida (bolsista grad.antropologia), Raiane Cunha (bolsista grad. geografia), Ana Eltermann (bolsista grad. linguistica), Josiana Carvalho (bolsista grad.história), Patricia Marcondes (Est. De pesquisa UFSC), Leonardo Ramos (voluntário grad.antropologia), Carla Franceline Galieta (voluntária grad.antropologia), Yérsia Souza (voluntária pós.antropologia), Carla Brito Sousa Ribeiro (voluntária pós.antropologia), Franco Delatorre (voluntário pós.antropologia), Díjna Torres (voluntária pós.antropologia).

Consultores:
Vanda Pinedo (Forum de Religioes Africanas), Apolonio A. da Silva (UNIAFRO), Diana Brown (Bard College NY USA), Helio Silva (prof. Visitante UFSC), Alberto Groismann (Depart. De antropologia UFSC), Regina Helena Meireles Santiago (IPHAN), Valmir Brito (mestre de Capoeira), Inacio Dias de Andrade (Aplicação UFSC), Rosa Azevedo Marin (UFPA).

2– Olhares de África: Lugares e entre-lugares da arte na diáspora
Iniciado em 2006 com apoio da CAPES, e do CNPq, em 2008 e 2009, o projeto aborda as artes visuais contemporâneas através das narrativas e imagens que contestam, reforçam e recriam uma poética visual africana e afro-brasileira. O projeto dialoga com a teoria pós-colonial, ao repensar lugares de saber, poder e representação presentes nas relações entre nações e culturas posicionadas desde o processo de colonização e descolonização. Autores como Young (2002), Journet (2002), Mirzoeff (2004) Cohen (2003) e Bhabha (1994) constituem referências importantes e ampliam o debate sobre tradição, modernidade, autenticidade e singularidade, encenando uma crítica aos binarismos e modos de pensar a cultura contemporânea.
A chamada ‘arte africana’ está entre aquelas categorias muitas vezes definidas como objetivas, como não resultantes e/ou decorrentes de processos de construção social, tornando-se assim altamente vulneráveis, em suas generalizações principalmente quando utilizadas para delimitar fronteiras culturais. Os usos e procedimentos classificatórios reatualizam a carga de significados com grandes implicações que vão do gênero à etnicidade. As classificações que orientam o olhar estético na cultura guardam suas “bagagens” diversas, não podendo ser entendidas da mesma forma em todos os lugares, embora circulem amplamente nos universos midiáticos globais. Apor exemplo, o ‘black’ ou o ‘negro’ assume dimensões distintas nos diversos contextos, o mesmo acontecendo com o ´africano/a´. Parece relevante hoje indagar quais imagens de África são veiculadas nos diferentes contextos e quais os discursos a elas associadas.
Busca-se, portanto, depreender as imagens que se apresentam como articulações discursivas e integram as narrativas históricas e heróicas e que tem nas artes visuais o seu ponto de ancoragem. No Brasil esta produção vem destacando-se enquanto projeções de singularidades realçadas desde um passado colonial escravista. Em Moçambique remetem ao contemporâneo, a uma forma de distanciar-se dos estereótipos de arte convencionalmente vista como primitiva ou tribal. Em Portugal, vêm sendo identificadas com o período pós-independências, pelos desdobramentos e processos reflexivos e por vezes, vista como arte da lusofonia. A relação espaço-tempo está sendo propositalmente destacada no projeto para ampliar as possibilidades comparativas que o tema sugere.
Na última década no Brasil, ao mesmo tempo em que há um visível e crescente aumento do interesse pela África (leis que incentivam o estudo de África em forma de conteúdos didáticos e de proteção do patrimônio cultural afro-brasileiro, acordos comerciais e intercâmbios estudantis e de pesquisa científica) – prospera, de modo surpreendente, a veiculação de um conjunto de imagens que tem muito pouca ou nenhuma correspondência com a África na atualidade. Um exemplo disso é o conjunto das imagens disseminadas em programas oficiais como o “Programa Brasil Quilombola”
A chamada “diáspora africana”, nomeia e expressa o que é comumente identificado com discursos e lugares subalternos perante as ex-colônias. Moçambique passou pelo processo político de independência e socialismo de Estado e vive hoje condições decorrentes do padrão de subalternidade que vem do período colonial desdobrando-se, portanto, em condições persistentes na atualidade. As narrativas que abrangem os países chamados “lusófonos” não representam desconhecimento da diversidade de suas experiências coloniais, mas pauta-se no reconhecimento de estratégias que fazem parte das novas relações pós-independências. É o lugar da experiência de des-individualização, do restabelecimento e resgate dos vínculos sociais, por onde ocorrem as inúmeras possibilidades de contato humano, permanecendo emolduradas pelos diversos significados conferidos à vida coletiva. A diáspora, segundo Paul Gilroy (2001), é um conceito que perturba a mecânica cultural e histórica do pertencimento, altera o poder fundamental do território para determinar a identidade, ao valorizar os parentescos sub e supranacionais, histórias pós-coloniais, trajetórias e sistemas de trocas transculturais. A idéia de “diáspora negra” desenvolvida por ele abre novas possibilidades para se pensar a territorialidade e as formas de conceber pertencimentos e fronteiras culturais. A arte, sem dúvida alguma, é um importante lugar para investigar e discutir as identidades situadas no marco da contemporaneidade.

Coordenação: Ilka Boaventura Leite
Pesquisadores de Iniciação Científica:
Carolina Peçanha
Milena Argenta (2007)
Márcia Irigonhê e Carolina Peçanha (2008-2009)
Thania Cristina dos Santos (2009)
Willian Conceição (2010-2011)
Rômulo Bassi Piconi (2012-2013)
Apoio: CAPES (2007) / CNPQ (2008-2013)

3 – É de baque virado: Diálogos com os mestres de maracatu do Recife (PE) e as políticas de patrimônio do Estado
A pesquisa pretende estudar o que é a prática cultural do maracatu de baque virado do Recife (PE), seus mestres, a partir de novas dinâmicas culturais, como as políticas públicas de patrimonialização.

Dissertação de Doutorado
Autora: Alexandra Eliza Vieira Alencar
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

4 – Etnicidades e sagrado: êxodos e identidades na Missa dos Quilombos
Tomando como base o texto/contexto da Missa dos Quilombos, pretende-se refletir sobre como aí se constroem identidades negras, o diálogo estabelecido entre a diáspora e a ideia cristã de êxodo, assim como o diálogo inter-religioso do que seriam as matrizes católicas e africana/afro-brasileira. Objetiva-se analisar a construção das identidades étnicas no discurso presente na Missa. Descrever os modelos identitários, concepções e construção dialógica de Sagrado atualizados na Missa; analisar as dimensões simbólicas da interculturalidade nas suas múltiplas relações com a construção identitária: organizacional, institucional e político-ideológico. Analisar a interculturalidade missal como trânsito e zona tensiva na própria construção Católica de Identidade Negra. Serão consultadas fontes escritas, fílmicas, imagéticas e sonoras disponíveis sobre a Missa tendo como espaço cênico dois contextos onde a Missa se vincula: o católico institucional e o catolicismo popular. Ambos vinculados a teias de articulações sociais, o Institucional do Concílio do Vaticano II, com a profusão de Pastorais do Negro, e a Declaração Dominus Iesus; o popular abrangendo as lutas de afirmação envolvendo memória, religião e cultura, também dialogando com a relação raça/etnia e movimentos sociais. Toma-se como premissa a diáspora africana aí revisitada como elemento de ressignificação do êxodo no seu sentido religioso.

Dissertação de Doutorado
Autor:  Augusto Marcos Fagundes Oliveira
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

5 – Ao som do Ijexá: Afirmação Política e Expressão Religiosa nos Afoxés de Recife-PE
Tendo como foco as práticas do Afoxé em Recife e Olinda, pretende-se refletir, nas dinâmicas atuais, os processos de construções e expressões identitárias e os sentidos atribuídos à cultura negra em Pernambuco. As reflexões acerca das noções de cultura negra ou práticas culturais negras na diáspora são abordagens que norteiam o presente trabalho, uma vez que evidenciam os processos de ressignificações desenvolvidos pelos praticantes do Afoxé, as suas organizações e mobilizações em meio às práticas religiosas, bem como depreender as diversas linguagens, expressões e reivindicações contidas nas noções produzidas sobre cultura negra em âmbito local.

Dissertação de Mestrado 
Autora: Gabriella Silva de Souza
Orientadora: Dra. Maria Eugenia Dominguez
Co-Orientadora:  Ilka Boaventura Leite

6 – ENCANTOS EXTRAMUROS – Estudantes Africanos: (Des)Encantos na Jornada Acadêmica
Atualmente, jovens estudantes africanos ultrapassam as fronteiras territoriais, motivados pela formação acadêmica nas Instituições de Ensino Superior do Brasil. A política externa que possibilita esse intercâmbio tem como objetivo central a capacitação de recursos humanos que poderão contribuir para o desenvolvimento dos países de origem desses estudantes. Nesse cenário, busca-se refletir sobre os “encantos” e “desencantos” encontrados nessa intensa jornada que implica em anos de vivência no Brasil, em constante contraste com outros grupos étnicos pertencentes a diferentes culturas e localidades. Para compreensão do processo de mobilidade e das transfigurações identitárias decorrentes deste, reflete-se sobre os “(Des)Encantos Extramuros” encontrados pelos estudantes africanos durante essa trajetória de formação até o previsto retorno as “suas Áfricas”.

Dissertação de Mestrado 
Autora:  Juliana Akemi Andrade Okawati
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

7 – “POSSO TOCAR NO SEU CABELO?” ENTRE O “LISO” E O “NATURAL”: TRANSIÇÃO CAPILAR, UMA (RE)CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA?
O cabelo é uma das partes do corpo que mais se encontra exposta na cultura ocidental. Elemento que carrega uma forte carga identitária e preocupação estética. É despendida atenção especial ao cabelo por questões estéticas, mas também a relação entre essa parte específica do corpo vai além. Há um conjunto de significações entre cabelo, raça, cultura e sociedade que podem nos ajudar a construir múltiplas identidades. Investigar a relação entre cabelo, raça e identidade é lidar com multiplicidades e contextos. Portanto, o principal objetivo do projeto é compreender, a partir do universo do ciberespaço e do real, o movimento “transição capilar” onde pessoas estão engajadas em parar de usar “química” no cabelo – e nesse caso, as químicas que menciono são as que têm como resultado a mudança da estrutura do fio de cabelo. Por exemplo: alisamentos, “escovas inteligentes” e “relaxantes” – e outros instrumentos para alterar o formato “original” do cabelo. O formato liso, antes objeto de desejo, não condiz com a ideologia do grupo que almeja um cabelo sem “química” e assim deixá-lo “natural”.

Dissertação de Mestrado 
Autora:  Larisse Louise Pontes
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

8 – O Reino do Bailundo: Identidade e Soberania política no contexto do Estado nacional angolano atual.
Com o mesmo, pretendo entre outros compreender o que caracteriza no contexto atual a soberania e o poder de um rei através do estudo do Reino do Bailundo, situado no município do Bailundo, província de Huambo, Angola.

Dissertação de Mestrado 
Autor: Marino Sungo
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

9 – Arte Pública e Etnicidade: movimento muralista afro-americano.

O mural “Wall of Respected” ,acima, situado na 43rd, Street,Chicago, foi realizado em 1967 por um grupo de artistas negros liderados por Bill Walker e correspondeu ao que James Foreman chamou de “a alta idade da resistência negra”, durante a luta pelos Direitos Civis nos EUA, quando os artistas estavam “nadando na superfície de ideologias da época”, sobretudo o racismo. Ele foi o pioneiro, foi dali onde partiram as principais passeatas e manifestações e foi a partir dali que a idéia de arte comunitária proliferou. Ele significou, sobretudo, um reclame por valorização da comunidade e de sua história.
Desde cedo o movimento muralista refletiu a estrutura do Movimento pelos Direitos Civis, seguindo o movimento pelos direitos democráticos entre “oppressed peoples” e pela “self –determination” para os Black Americans. O “Wall of Respect ensinava sobre heróis negros, conquistas e história – questões que estavam sendo incluídas nos livros escolares e em museus e galerias.Wall of Truth” que fazia uma crítica social, mostrando as doenças e pobreza, violência e assassinato do líder dos panteras negras Fred Hampton. Através destas duas obras, diferentes entre si, mostravam o caminho, a inspiração e o modelo de organização comunitária para outros artistas de Chicago que espalhou-se entre pintores predominantemente no black south-side, para outros bairros de grupos excluídos, entre 1968-70. Étnica de muralistas com base comunitária.
Houve uma explosão de trabalhos explorando temas afro-americanos, com designs e imagens da arte africana. No final de 1971, 60 murais tinham sido completados em Chicago e no final de 1975 perto de 200. Temáticas que vão do escravismo colonial a figuras dos trabalhadores, incorporando temáticas maiores, sobre self liberation, retratos dos líderes como Martin Luther King, Malcom X, sugerindo unidade entre os líderes negros. Como afirma Bill Walker: os artistas negros não precisavam imitar a arte do homem branco, ou Eugene Eda: queremos ter nossos próprios valores, potencializando nossas próprias experiências”. Os murais trabalhavam sobre temas como a “tensão racial e a unidade da raça humana”. Exs: Wall of Black, Love and Peace, Salvation: Wall of understanding, localizados em Cabrini-Green neighborhood.
A ideia de autoestima e dignidade através do resgate da história e da espiritualidade emergiu e dominou a cena dos murais afro-americanos nos anos 80 e 90. Em 1985 o CMG se reorganizou em Chicago Public Art Group – CPAG, vindo se definir como um movimento de arte comunitária, expressando a diversidade de seus artistas e principalmente voltado para estratégias de trabalho voltados para a educação de jovens, com novas relações de colaboração e voltados para a revitalização de espaços públicos degradados através do gesto de criação coletiva, imprimindo na cidade a história dos grupos sociais que ali viveram e ainda vivem. O movimento muralista, ao longo de mais de 30 anos de existência, ampliou e diversificou o seu enfoque, de conflitos raciais para questões relacionadas à exploração do trabalho, afirmação da identidade, autovalorização, ou mesmo, centrados em enfoques multiculturais. O presente projeto visa resgatar esta história e estabelecer comparações com o que vem ocorrendo no Brasil, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Pós-doutorado: Ilka Boaventura Leite – Universidade de Chicago

10 – “Qualquer semelhança não é mera coincidência”: o HIV/SIDA no cinema de Moçambique
Ao propor como pesquisa uma análise do HIV/SIDA a partir do cinema moçambicano tenho o intuito de fazer uma análise sobre os modos como a epidemia passa a ser significada e “construída” sob a ótica do cinema contemporâneo daquele país. Neste sentido, optamos de modo particular por analisar a obra da cineasta moçambicana Isabel Noronha que nos últimos anos têm se debruçado em sua produção cinematográfica em retratar os impactos da SIDA no contexto local. Deste modo, tenho o intuito de problematizar acerca dos diferentes modos como a epidemia é compreendida e expressa nos filmes de Isabel Noronha e os aspectos e problemáticas nele contidos e que possibilitam a compreensão da epidemia para além de um discurso medicalizante. Assim, a idéia de que “Qualquer semelhança não é mera coincidência”, encontra eco na proposta desta cineasta moçambicana que vê na produção cinematográfica não apenas uma questão artística, mas, sobretudo, política e social, utilizando sua produção fílmica também como um material educativo.

Dissertação de Doutorado 
Autor: Esmael Alves de Oliveira
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

11 – Temporalidade, Ética e Contingência na Pós-Colônia Africana: Esperando por Deus em Gana. Universidade Federal de Santa Catarina.

Examinar a condição pós-colonial africana a partir de sua dimensão ética e temporal, caracterizada tanto pelo fechamento de futuros passados quanto pela proliferação de futuros emergentes, gestados cada vez mais em redes transnacionais religiosas islâmicas e cristãs (Larkin; Meyer, 2006). Meu interesse particular é o emaranhamento entre as temporalidades cristã pentecostal e pós-colonial em Gana, assim como as limitações impostas pela socialidade contingente do que Achille Mbembe (2001) chama de “a pós-colônia africana” para a teoria social. Minha narrativa se desenrolará como uma viagem etnográfica de Acra à montanha Atwea, um retiro de oração localizado na região Ashanti de Gana, assim como uma reflexão sobre o estilo de vida de meu amigo e companheiro de jornada, o evangelista popular Richard Agyeman.

Dissertação 
Autor: Bruno Reinhardt
Supervisora durante o período de 2017-2018: Dra. Ilka Boaventura Leite

12 – Je est un autre: a construção da invisibilidade negra no cinema cubano produzido pelo ICAIC. 2018. Dissertação (Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina.

Esta pesquisa surge da necessidade (re) pensar o tratamento dado à presença negra nas mídias na sociedade cubana atual e, mais especificamente, no cinema. Procura identificar como se deu a construção da invisibilidade negra no cinema cubano produzido pelo Instituto Cubano del Arte e Indústrias Cinematográficos (ICAIC), a partir de uma revisão nas abordagens conceituais.

Dissertação de Mestrado – PPGAS – 2018
Autor: Yasser Socarrás Gonzalez
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

13 – Mulheres na Luta Armada em Angola, memória, cultura e emancipação. Estudos africanos –Universidade de Lisboa.

Este projeto reflete sobre as memórias de guerra de mulheres combatentes que participaram na luta de libertação e na guerra civil em Angola e na ressignificação dessas memórias no presente. Na pesquisa será questionado se a participação das combatentes na luta de libertação terá sido um ato de cultura e emancipação. Nesta circunstância, este envolvimento talvez possa ser considerado um feminismo avant la lettre o que coloca as mulheres africanas no centro dos debates contemporâneos sobre a modernidade.

Dissertação 
Autora: Margarida Paredes
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

14 – Êxodos e encruzilhadas da missa dos quilombos (2015).Tese de Doutorado (Antropologia Social) – Universidade Federal de Bahia.

Reflito a Missa dos Quilombos, na qual a metáfora quilombo é acionada em celebração eucarística como manifestação de fé religiosa, afluindo como ferramenta de luta de poder e expressão estética e poética. Proibida pelo Vaticano de ser celebrada enquanto eucaristia, tal expressão de luta política percorre sua condição diaspórica da igreja para o teatro. Indago como esta celebração evoca a emergência identitária, como o quilombo é reconfigurado e ressemantizado. Tomo por base três versões da Missa: a celebração eucarística ocorrida no Recife em 1981, no lugar onde havia sido exposta a cabeça de Zumbi de Palmares no ano de 1695. Também a contra-celebração dos 100 Anos da Abolição ocorrida nos Arcos da Lapa, Rio de Janeiro, em maio de 1988; e montagens teatrais produzidas pela Companhia Ensaio Aberto do Rio de Janeiro desde 2002.

Dissertação de Doutorado – UFB – 2015
Autor: Augusto Marcos Fagundes Oliveira
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

15- “Meu lugar agora é aqui”: Trajetórias e memórias de colonos e seringueiros para Rio Branco, Acre – uma abordagem antropológica. 2004
Esta tese discute as relações entre trajetórias e memórias de famílias de colonos e famílias de seringueiros, trabalhadores rurais que nas décadas de 1970 e 1980 do século passado, chegaram a Rio Branco, Acre, e formam hoje um enclave no bairro Cidade Nova, periferia urbana da cidade. Os colonos vieram do Paraná e Santa Catarina, e os seringueiros de municípios do interior do Estado do Acre. Os colonos chegaram atraídos por propaganda governamental que prometia terras e insumos para a produção agrícola. Os seringueiros, por terem sido pressionados a abandonar suas terras, devido a alterações no modelo econômico, que passa de bases quase que totalmente extrativista para uma economia agropastoril. Colonos e seringueiros imaginavam reproduzir suas condições sociais camponesas, como pequenos produtores rurais no novo contexto. O trabalho articula as noções de espaço, território, lugar, memória e identidade, como modo de entender seus modos de ser e fazer, o reordenamento de seus cotidianos, os diacríticos acionados para marcar distintividades entre eles. Procura mostrar, também, que não só de diferenças é marcada a convivência no bairro. É uma primeira tentativa de preencher uma lacuna, dando voz aos colonos e aos seringueiros, a partir de uma perspectiva da antropologia.

Dissertação de Doutorado – PPGAS – 2004
Autora: Lais Maretti Cárdia
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

16- O “afro”entre os imigrantes em Buenos Aires: reflexões sobre as diferenças.2004
Neste estudo se analisam os discursos e atividades de trabalhadores culturais (Ribeiro, 1998) imigrantes na cidade de Buenos Aires, Argentina, na atualidade, que qualificam assuas atividades culturais e a categoria social a qual pertecem como ‘afro’. Através deste recorte visamos compreender as formas de demarcação de fronteiras étnicas e culturais e a variedade de posicionamentos que informam o trabalho cultural neste circuito (Magnani, 1996). Se examinam o processo de invisibilização (leite, 1996) dos negros na Argentina e as valorizações ligadas à categoria de negros no contexto em questão para compreenderem o trato específico que recebem esses imigrantes na atualidade e as iniciativas por eles desenvolvidas. Com apoio em conceitulizações sobre relações interétnicas, se exploram as formas de nomeação adotadas pelos agentes, os processos de articulação da identidade pessoal na categoria social ‘afro’, o estabelecimento de alianças e demarcação de diferenças. Mostramos como imigrantes de diferentes procedências elaboram uma memória social (Santos, 2003) que vincula o grupo social ‘afro’ no qual se incluem, com o passado dos afro-descendentes na região.

Dissertação de Mestrado – 2004
Autora: Maria Eugênia Domingues
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

17-A invenção do município: o fogo das identidades locais e regionais. 1996
O objeto de estudo desta dissertação trata da “invenção” do município. Através dele procuro mostrar que a formação de um município envolve múltiplas relações e interesses que ultrapassam a problemática dos limites territoriais.
A onda de emancipações político-administrativas desencadeada nestes últimos anos, corresponde a uma nova reordenação da representatividade política nos governos locais, possibilitada pela lei, mas principalmente viabilizada através de alianças políticas estabelecidas entre o poder local e as demais instancias governamentais.
Um novo modelo de município tem sido inventado e busca inserir-se em um contexto político e econômico recente e de múltiplas articulações que ora se apresenta.
A partir da emancipação político-administrativa de Cordilheira Alta – ex-distrito do município de Chapecó, região oeste de Santa Catarina – busco demonstrar como a formação do município corresponde a uma história regional específica, que tem na ocupação do território, na economia e na questão étnica as bases para constituição do poder local.
Ao tratar da formação do poder local em um contexto específico – um estudo de caso – procuro não perder de vista a relação entre governo e as demais instâncias, bem como a inserção do município dentro de um universo econômico ligado à cultura da globalização e os limites que esta “nova ordem” estabelece.

Dissertação de Mestrado – 1996
Autora: Rosana Maria Badalotti
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

18-Leituras Transatlânticas: diálogos sobre identidade e o romance de Pepetela. 2005
Esta é uma tese sobre o encontro com a literatura do escritor Pepetela, de Angola. É um diálogo sobre nação, sobre identidade e diferença. Uma etnografia que chamo de tradução possível das narrativas dos romances, promovendo relações e diálogos intertextuais, considerando minha experiência de leitura entre Brasil, Angola e Portugal. Neste caso, a viagem e a leitura são tomadas como complementares e como metáforas de travessia e de encontro. Contextualizo o percurso da produção literária do escritor nos últimos quarenta anos, provoco discussões que envolvem temas como a relação entre literatura e nação em Angola, penso o Brasil como referência de diálogo nos romances, problematizo a nação sendo narrada como comunidade de sentimento, analiso retóricas de identidade, diferença e ambivalência e realizo uma reflexão mais pontual sobre o que eu chamo de retóricas da mistura.

Dissertação de Doutorado – PPGAS – 2005
Autor: Frank Nilton Marcom
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

19-Rinkebysvenska: identidade e linguagem do jovem sueco de origem estrangeira em um bairro de Stockholm, Suécia. 2002
“Rinkebysvenska: identidade e linguagem do jovem sueco de origem estrangeira em um bairro de Stockholm, Suécia”, é fruto de uma experiência relacional e dinâmica realizada no campo.
Procuro descrever o contexto e as interações sociais nos quais emerge o rinkebysvenska, linguagem desenvolvida por adolescentes de origem estrangeira, moradores de Rinkeby.
Começo a me referir pelos motivos que me levaram à escolha do tema de pesquisa, passo ao relato da experiência de campo e introduzo as categorias nominativas que adotei.
Após a discussão teórica, analiso o discurso fundador da identidade nacional sueca e menciono fronteiras sociais entre os sujeitos envolvidos. Procuro apresentar uma etnografia de Rinbey – bairro suburbano de Stokholm de maioria imigrante – e apresento exemplo de forma de sociabilidade destacadas por seus moradores. Reservo a parte final da pesquisa ao rinkebysvenska, procurando revelar, através dos pontos de vista de diferentes interlocutores, usos e contextos dessa linguagem bem assim como relações entre rinkebysvenska e conflitos com a sociedade de acolhimento. Procuro ainda problematizar a identidade do jovem de origem estrangeira na atualidade, com base no exemplo estudado.

Dissertação de Mestrado – 2002
Autor: Abel José Abreude Oliveira
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

19- “Mi Soi Talian Gracia a Dio: identidade étnica e separatismo no oeste catarinense”

Este trabalho investiga a construção de uma identidade italiana na região oeste do estado de Santa Catarina e sua relação com um projeto político específico: a criação de um novo Estado de federação: o estado de Itaguaçu (abrangendo o oeste de Santa Catarina e o sudoeste do Paraná). Os dois temas mostram-se indissociáveis pois a construção de uma identidade por descendentes de italianos nos últimos anos tem servido e serve-se do discurso e da estratégia política de conquistar um espaço próprio e autônomo dentro da federação.
O oeste catarinense é uma região de 30 mil quilômetros quadrados, limitados a leste pelo rio Peixe, ao norte Paraná, ao sul pelo Rio Grande do Sul e a oeste pela Argentina. Vivem ali cerca de um milhão de pessoas. Estima-se que mais da metade da população seja descendente de italianos. A maior parte da população descende de italianos que chegaram ao Rio Grande do Sul a partir de 1875. A partir da década de 20, imigraram para o oeste de Santa Catarina.
Observa-se que a partir das duas últimas décadas parte destes descendentes de italianos estão construindo uma italianidade através de uma valorização da trajetória da colonização, de uma “invenção das tradições” e da “busca das origens familiares”. Neste processo, reivindicam para si também uma identidade regional do Rio Grande do Sul – o gaúcho-, atribuindo porém outros significados à figura usual que se faz. Portanto, há uma sobreposição de identidades, pois esta população se reconhece como italiana, como oestina e como gaúcha.
Para ressaltar ainda mais a sua diferenciação étnica em relação a outros grupos étnicos no Brasil, os descendentes de italianos acionam o mito do homem pioneiro/desbravador. O mito justifica a proposta separatista onde italianos aparecem como trabalhadores e instauradores da civilização e do progresso,em oposição aos brasileiros, tanto a nível local como regional e nacional.

Dissertação de Mestrado – PPGAS/1996
Autora: Raquel Mombelli
Orientadora: Ilka Boaventura Leite

20- De negros a adventistas, em busca da salvação

De negros a adventistas, em busca de salvação. Estudo de um grupo rural de Santa Catarina. É um trabalho etnográfico que retrata um grupo de origem africano vivendo em condições rurais no sertão de Valongo, município de Porto Belo.
O enfoque histórico é utilizado para auxiliar nas investigações sobre o processo de transição da escravidão para a condição atual e para contextualizar o grupo na história catarinense.
A situação encontrada permitiu fazer uma leitura dos valonguenses focada em três questões: a forma de “isolamento”, o trabalho e a noção de tempo. A construção da identidade deste grupo baseada em seu projeto inicial de autonomia passou por uma transformação e hoje se confunde com o projeto de salvação prometido pela fé adventista.

Dissertação de Mestrado – PPGAS/1990
Autora: Vera Iten Teixeira
Orientadora: Ilka Boaventura Leite